jueves, 19 de septiembre de 2024

Agora também em português

Eu estou a estudar português e eu fiz um pequeno comentârio sobre as minhas primeiras leituras. Cá o comparto:

 

 

As minhas leituras em português: comentários e impressões: 

embora tentarei de não estragar-lhos.

[Atenção: Agora, eu sou estudante de língua portuguesa com nível credenciado A2, não mais; estou a estudar para o nível B1. Os meus interesses são: engenharia agrícola e ambiental, a natureza, literatura e cinema de terror, ficção científica, história e divulgação científica; línguas como inglês, grego antigo; músicas como garagem e rock psicadélico; tópicos meus são Alien, Star Trek, o punk ou o comunismo.]

Comecei a ler livros em português no curso passado. Comecei com Contos exemplares de Andresen. Neste curso estou a ler Contos de Eça de Queirós, e Saramago A viagem do elefante e Viagem a Portugal, e Marco Neves História de português desde o Big Bang. Compro os livros em papel porque gosto de sublinha-los com lápis e de anotar as palavras que ainda não compreendo. Quando estou a ler tenho a mão o telemóvel com a web priberam.org para consultar palavras.



Contos exemplares, Sophia de Mello Breyner Andresen,1962

Uma introdução Pórtico onde Andresen escreve de filosofia e religião.

O primeiro conto e o mais interessante e longo é O jantar do Bispo, onde um bispo vai a jantar à casa de um homem rico; o bispo quer pedir dinheiro para arranjar o teto de uma antiga igreja e o homem rico quer pedir que o bispo mude o cura da aldeia, Varzim, um cura que vivia pobremente e pregava a caridade. O homem rico crê que caridade é dar esmola mas o cura de Varzim fala outra coisa os domingos na igreja. É um conto de magia e de demónios, mais também discutem-se questões sociais e políticas do século XIX; a igreja católica é muito presente. O conto é de uma extraordinária beleza poética: depois de ler a frase O brilho da noite fazia luzir os azulejos azuis eu quero falar português. O conto lembra-me 'A floresta animada', livro de contos de Wenceslao Fernández Flórez, 1943.

Eu disse magia e não religião, porque acredito que eventos aparentemente sobrenaturais devem ser explicados por meios naturais, assim como Anne Radcliffe justifica por causas naturais os acontecimentos estranhos no romance gótico. Acho que Andresen aceita as explicações sobrenaturais. Há muito que dizer da relação dos grandes escritores portugueses e a Igreja Católica (também para Eça de Queirós).

O segundo conto A viagem desenvolve um tema típico de ficção científica: O tempo que corre em velocidades diferentes em universos diferentes. Como no filme de 2018 Parallel (Dimensão paralela) mas eu acho que esta ideia é velha, tanto como na lenda japonesa de Urashima Taro: um pescador japonês que um dia salvou uma tartaruga e no dia seguinte é levado para o fundo do mar donde o pai da tartaruga (que é o Imperador do Mar) quer vê-lo e agradecer-lhe. Taro encontrou-se com o Imperador e a sua filha (a tartaruga). Taro ficou no palácio e muitas festas foram feitas; até que o tempo passou e começou a sentir saudades da sua terra e quis voltar. Ao partir, a princesa deu-lhe uma caixa de presente que não deve de ser aberta até que ele fora muito velho. Taro chega a sua aldeia mais não conhece nada nem a ninguém, tudo foi mudado. Desesperado, na praia, ele abre a caixa e uma nuvem branca lhe devolve os anos perdidos, de repente ele envelheceu e morreu. Mais de cem anos se passaram.

O terceiro conto Retrato de Mónica é sobre uma mulher muito confiante, uma mulher perfeita. E tem muita ironia. Acho que poderia ser uma vingança para alguma mulher que Andresen conhece; Andresen diz Ela põe a sua inteligência ao serviço da estupidez. Ou, mais exatamente: a sua inteligência é feita da estupidez dos outros.

O quarto conto Praia é muito poético. Tem um ar de tempo perdido e imagens congeladas que lembra-me ao romance A invenção de Morel de Adolfo Bioy Casares, 1940. Hã uma referência à guerra e a uma batalha em outubro de 1942. Na penúltima página há uma frase Os homens: οἱ ἀνθροποι; o seguinte conto intitula-se Homero e o seguinte O homem, creio que não é uma coincidência; Andresen sabe montar um livro.

O quinto conto 'Homero' é poesia pura, prosa poética autêntica, lembra-me ao Platero e eu de Juan Ramón Jiménez, 1914. É a história de um encontro na casa da praia de Andresen menina com Búzio, um vagabundo.

O sexto conto O homem é outro conto religioso, Andresen viu um homem pobre caminhando pelo centro da cidade, onde mais pessoas há; ele caminhava muito devagar, rente ao muro, um homem muito belo, com uma criança no colo, o fato descolorido, ele comido pela fome, sozinho, cheio de sofrimento e solidão, mirando para o céu. Eu pensei em Jesucristo e na penúltima página, Andresen lembra-se de uma cita, Mateo 27:46, é Jesucristo!, sofrente e sozinho.

O sétimo conto Os Três Reis do Oriente é outro conto religioso e filosófico, é uma versão alternativa da história dos três magos do Oriente que chegam a Belem para adorar ao menino Jesus; cada uno dos reis tem a sua própria história, onde se fala de deus e dos homens, da estrela de Oriente. Ao final do conto, liga de novo o tema da doutrina social da Igreja, fecha o círculo aperto com o primeiro conto.



Contos, Eça de Queirós, 1902 (póstumo).

[Só comento os contos que eu li inteiros e que gostei deles]

Singularidades de uma Rapariga Loura é um conto quase romântico, eu pensei ao início, mas depois de ter lido eu vi o filme com o mesmo título, de Manoel de Oliveira, 2009, e eu vi o conto com outros olhos. Acho que lembra-me dos romances de Benito Pérez Galdós.

No Moinho é a história de uma mulher casada com um homem doente, os seus filhos também estão doentes; a mulher não acha felicidade na vida embora seja muito devota até que aparece um parente da cidade. Poderia ser um conto romântico, mas lembra-me do conto O castelhano velho de Mariano José de Larra e do esperpento ou grotesco de Valle-Inclán. Também poderia ser um conto galante de Guy de Maupassant, mas hã tanto grotesco que não se crê; e neste conto hã palavras que não estão no dicionário Priberam; acho que são palavras antigas, usadas de propósito para dar um ar velho. É uma história de rir muito.

Poderia ser que Eça de Queirós está a rir-se das pessoas das aldeias, ou das pessoas devotas e da Igreja Católica, ou das pessoas galantes dos contos de Guy de Maupassant, ou de todos eles juntos.

Civilização, outro conto grotesco, também de rir muito. Um homem de cidade acostumado as comodidades y aos aparatos técnicos, viaja a sua aldeia, e os seus costumes colidem com a simplicidade e honestidade dos aldeões.

O Tesouro é um conto de ação, na Idade Média, três irmãos têm a sua casa em ruína, sem pais, sem dinheiro, sem nada que comer; mas eles acham um tesouro e começa um jogo perigoso entre eles. Hã traição, violência, espadas, mortes, voltas inesperadas, parece um velho filme de Quentin Tarantino.

O Defunto é a minha história favorita. Parece ao primeiro uma história romântica, lembro-me das Lendas de Gustavo Adolfo Bécquer, e sim, lembro-me mais quando a história toma um ar de terror, lembro-me de A montanha das almas. Cá temos um autêntico conto de terror, dá arrepios; acho que poderia estar publicado nos livros do editorial Valdemar em Espanha, creio que ainda não foi.



A viagem do elefante, José Saramago, 2008.

Uma história muito engraçada baseada em um feito verdadeiro: o rei de Portugal regalou um elefante para o arquiduque de Austria no século XVI e o elefante viajou desde a Torre de Belém (preto a Lisboa) a Viena; e eu não estrague a história, isto se conta na primeira página. Saramago escreve com muita graça, está a rir dos seus personagens, do viagem, de tudo. E tem muita ironia: o meu passagem favorito é quando um cura de aldeia quer exorcizar ao elefante e diz aos aldeões: Amanha, antes que o sol nasça, quero toda a gente no adro da igreja, eu, vosso pastor, irei na dianteira, e juntos, com a minha palavra e a vossa presença, pelejaremos pela nossa santa religião, lembrai-vos, o povo unido jamais será vencido.

 

Hã um respeito pela religião e pela Igreja Católica muito grande em Eça de Queirós e em Andresen. Lembro-me que em Portugal além do mais da cultura religiosa e do poder da Igreja, havia censura. Isto é diferente com José Saramago, ainda mais quando escreve depois do ano 1974 que já não hã censura em Portugal.


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